Quando uma criança é baleada na sua porta.

Um fato surpreendente que a maioria dos civis desconhece é que tiros podem soar muito parecidos com fogos de artifício. A única maneira real de diferenciar os dois é prestar atenção à diferença na cadência. Fogos de artifício têm uma cadência muito mais regular: BAM-BAM-BAM-BAM-BAM. A cadência dos tiros é tipicamente errática: BAM-BAM-pausa-BAM-BAM-BAM-pausa-BAM-pausa-BAM. Mesmo assim, é difícil perceber a diferença a menos que você já tenha presenciado ambos. Eu servi no exército. Já vi muitos fogos de artifício e tiros. Eu sei a diferença.

Na noite deste sábado, ouvi tiros.

Não era a primeira vez que eu os ouvia; mas era a primeira vez que os ouvia e, ao olhar pela janela, via um jovem sangrando na calçada, a poucos passos da janela da minha sala. Um jovem. Sangrando. Um adolescente. Uma criança.

A polícia chegou logo em seguida, assim como a ambulância. Vi o jovem sendo levado pelos paramédicos. Uma hora depois, os bombeiros apareceram para lavar o sangue da calçada. Uma fita amarela isolou a rua para identificar a cena do crime.

Até esta noite, estive angustiada, me perguntando se a vítima era um dos meus alunos. Trabalho meio período como educadora e mentora no meu bairro, e alguns dos meus vizinhos também são meus alunos. Finalmente consegui falar com o pai do jovem que eu temia ter sido baleado, e ele pôde confirmar que seu filho, meu aluno, estava bem, pois estava na casa de um amigo quando o tiroteio aconteceu. Soltei um profundo suspiro de alívio quando ele me contou isso. Um alívio que foi seguido por culpa. Alguém havia sido baleado. Não era meu aluno. Mas alguém havia sido baleado. Um adolescente. Uma criança.

Meu aluno mora no prédio ao lado. A família dele mora no segundo andar. Embaixo deles mora uma família de quatro pessoas. Meu vizinho e eu temos quase certeza de que alguém lá embaixo vende drogas. Verdade ou não, alguém naquela casa tem ligação com gangues. Eu presenciei a atividade em primeira mão. E os eventos do último fim de semana confirmariam isso para qualquer um que tivesse dúvidas. Mas eles não são os únicos ligados a gangues neste bairro. Há vários outros. E mesmo morando a menos de um quilômetro da delegacia, o domínio das gangues neste bairro não parece estar diminuindo com o tempo.

O que fazer? De quem é a culpa? Como podemos reverter essa situação? Passei muito tempo refletindo sobre essas questões. Também tenho me esforçado para combater esse fenômeno. Infelizmente, não foi suficiente. Uma criança foi baleada na casa ao lado. E não consigo parar de pensar nisso.

Escrevo isto porque, embora tenha me esforçado para reduzir a criminalidade violenta na minha cidade, não fiz o suficiente. É provável que muitos de vocês que estão lendo isto também não tenham feito o suficiente. Vocês se dão conta de que a cura para o câncer pode muito bem estar na mente de uma criança "em risco"? TODA criança tem um potencial incrível. Um potencial que, quando realizado, pode ter um impacto tremendo em sua cidade, estado, país, no MUNDO. É verdade. Por isso, precisamos fazer muito mais para ajudá-las a realizar esse potencial.

O princípio sul-africano do Ubuntu reconhece o poder da comunidade. Ubuntu, em tradução livre, significa "Eu sou porque nós somos". Esta é a única maneira de ajudarmos TODAS as nossas crianças a realizarem seu potencial – aproveitando o poder da comunidade. Saindo da nossa zona de conforto e trabalhando com nossos vizinhos para proteger o bem mais precioso que temos: a próxima geração. Não podemos depender da geração atual para promover mudanças revolucionárias. Esta geração está sobrecarregada. Por dívidas. Por obrigações. Por traumas emocionais e psicológicos. Não podemos confiar na polícia local. Eles sabem MUITO bem quem vende drogas e quem trafica armas, mas fazem vista grossa por causa da corrupção, do suborno e da apatia. Cabe a nós proteger e capacitar nossas crianças.

Você está disposto a aceitar este desafio?

Rs,

-H. Pace

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